As ações da Infracommerce (IFCM3), empresa especializada em soluções para comércio eletrônico, enfrentaram uma forte desvalorização na Bolsa de Valores brasileira (B3), acumulando uma queda de mais de 41% em apenas dois dias. O tombo ocorre em meio à divulgação de um conjunto de notícias negativas que abalaram a confiança dos investidores.
Na quinta-feira (15), os papéis da companhia encerraram o pregão em baixa de 20,69%, cotados a apenas R$ 0,23. No dia anterior, a queda já havia sido significativa: 25,64%. O desempenho negativo recente chama atenção não só pelo percentual elevado, mas também pelo valor unitário das ações, que faz com que pequenas variações em centavos resultem em grandes oscilações percentuais.
Três fatores principais explicam essa brusca desvalorização:
1. Reestruturação de dívidas e incertezas sobre o futuro
A Infracommerce anunciou um acordo preliminar com os principais credores, no qual prevê o alongamento e a renegociação de uma dívida que gira em torno de R$ 650 milhões. O memorando de entendimentos ainda não é vinculante, mas estabelece as diretrizes para um plano de reestruturação financeira da operação no Brasil.
Além disso, o plano inclui medidas para redução de custos e despesas operacionais ao longo do segundo semestre de 2025, com o objetivo de melhorar a geração de caixa e a rentabilidade da empresa.
Diante desse novo cenário, o Itaú BBA, que acompanha a performance da empresa no mercado, comunicou que está revisando sua avaliação sobre a companhia. Segundo o banco, no momento não é possível construir um modelo que represente adequadamente a nova realidade financeira da Infracommerce, o que aumenta a incerteza para os investidores.
2. Balanço trimestral com prejuízo bilionário
Outro fator decisivo para a queda nas ações foi o resultado negativo apresentado no balanço do segundo trimestre. A empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 1,5 bilhão entre abril e junho, uma perda muito superior aos R$ 52,4 milhões reportados no mesmo período do ano anterior.
Mesmo após ajustes contábeis, o prejuízo ainda foi de R$ 146,7 milhões. Os resultados também mostraram retrações em diversos indicadores operacionais: a receita líquida caiu 11,6%, a margem bruta recuou 18,3 pontos percentuais, o GMV (volume bruto de mercadorias) teve queda de 14,8%, e o volume total de pagamentos (TPV) encolheu 34,7%.
Esses números indicam um desempenho abaixo do esperado e reforçam o momento delicado vivido pela empresa.
3. Baixa contábil de R$ 1,4 bilhão
O terceiro ponto de destaque é a baixa contábil no valor de R$ 1,4 bilhão registrada nas demonstrações financeiras. Esse ajuste contábil está relacionado às aquisições feitas pela companhia nos últimos anos e reflete uma reavaliação do valor dos investimentos realizados.
Segundo o CEO da Infracommerce, Ivan Murias, trata-se de um efeito contábil que não envolve saída de caixa, mas é necessário para alinhar os números da empresa à realidade atual do mercado e dos ativos adquiridos em operações de fusões e aquisições (M&As).
Apesar do momento crítico, Murias afirmou que a companhia segue comprometida com um plano de reestruturação e com as mudanças necessárias para retomar a rentabilidade no futuro. Ele reconheceu que os resultados ainda estão aquém do desejado, mas acredita que os ajustes em andamento poderão gerar frutos a médio prazo.
Com a sequência de más notícias e a falta de clareza sobre os próximos passos, os investidores reagiram de forma intensa, provocando uma das maiores quedas recentes da bolsa. A trajetória da Infracommerce nos próximos meses dependerá da capacidade da empresa em executar seu plano de reestruturação e reconquistar a confiança do mercado.